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Uma pessoa simples que adora somar amigos. Num encontro comigo mesmo.... Comecei escrever um livro a um tempo atrás, logo que consegui sair de uma terrível depressão devido a um acidente (atropelamento), deste acidente... a única seqüela que ficou foi a certeza que estamos sempre começando e podemos ser interrompidos antes de terminar e que “devo realizar hoje tudo o que anseio pois pode não existir um amanhã..., SINOPSE (...) Neste livro dou permissão aos outros me conhecerem... julgarem, e serem espontâneos no que diz respeito ao conceito sobre mim, mesmo sabendo que não será uma tarefa fácil de realizar... Para isso saiba que.... Meus pontos fortes são, fidelidade de sentimentos, paciência e escuta... Meus defeitos são, tendência a ser rígida e inflexível(comigo mesma)..., e ser demasiadamente séria...(num primeiro momento...)... Este livro tem o Título "UMA ESTRADA E UMA CURVA". Sugerido por um amigo, quando estavámos num lugar especial. (...) Formação: Matemática, Física, Artes, Complementação Pedagógica, Especializada em DM.

domingo, 10 de abril de 2011

ESPECIAL PARA CANHOTOS

O canhoto, este ser sinistro

Assisti esses dias The mistery of the left hand, um documentário da BBC Horizon onde tomei conhecimento de uma série de fatos curiosos a respeito dos canhotos. Nele, o renomado neurologista Norman Geschwind apresenta uma interessante teoria sobre lateralidade, associando-a à testosterona.
Segundo o cientista, precursor da Neurologia Comportamental surgida no início da década de 1970, uma excessiva produção do hormônio masculino retardaria o desenvolvimento do hemisfério esquerdo do cérebro, fazendo com que o direito torne-se dominante. E, como o controle dos lados do corpo é invertido (o hemisfério direito controla o lado esquerdo do corpo e vice-versa), o indivíduo acaba tornando-se um canhoto*. Isso explicaria, por exemplo, porque existem mais canhotos do que canhotas.
Canhoto
- Sai pra lá, seu torto!
Em seu interessante artigo, Left-handedness: Association with immune disease, migraine and developmental learning disorders (arquivo em PDF), Geschwind associa, ainda, o menor desenvolvimento do lado esquerdo do cérebro a alguns consequentes contratempos. Canhotos teriam, por exemplo, maiores chances de desenvolver doenças relacionadas ao sistema imunológico (alergias e alguns tipos de artrite reumatóide), enxaqueca e problemas de aprendizado envolvendo a linguagem (dislexia e gagueira).
Em oposição a esta teoria biológica, há os que defendem causas ambientais. Em seu livro The Left-Hander Syndrome, o Dr. Stanley Coren diz acreditar que todos somos destros e que algum problema na gestação ou no parto seria responsável pela troca do lado dominante.
Recentemente identificou-se, ainda, um gene associado à probabilidade de uma pessoa ser canhota, embora estime-se que a chance de pais canhotos terem um filho idem seja da ordem de 26%. Desgraçadamente o mesmo gene parece estar ligado, também, a maiores chances de a pessoa desenvolver esquizofrenia - o que explicaria a alta indicência de canhotos com esta patologia.
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Fato é que há muitas lendas envolvendo os canhotos, desde a Idade Média onde eles eram considerados bruxos e sofriam as calorosas consequências de sua preferência pela parte esqueda do corpo. Até recentemente, muitos canhotos eram forçados a abandonar tal inclinação para se adaptar artificialmente ao mundo dos destros. Até mesmo os termos usados para descrever um canhoto são pejorativos na maioria dos idiomas, reforçando o caráter sinistro (com trocadilho, por favor) com que sempre foram encarados. Não à toa, destreza (no sentido de habilidade) vem de destro...
A maior parte das generalizações que se faz não tem, contudo, qualquer base científica. Tanto é que na eventualidade de uma lesão em algum hemisfério cerebral, o lado não afetado normalmente assume as funções prejudicadas. O fato de haver alguma separação ou especialização lateral serve para multiplicar as possibilidades do cérebro, permitindo maior diversificação, em vez de redundância. Tudo o que a ciência conseguiu mostrar até agora é que ninguém é totalmente inclinado para um único lado.
Hemisférios cerebrais
Que lado faz o quê?
A lateralidade fica evidente em algumas preferências como a mão ou pé mais usados estendendo-se, inclusive, ao olho ou ouvido preferidos. Mas para atividades cognitivas não há regras fixas. Enquanto que 95% dos destros têm suas funções de linguagem localizadas no hemisfério esquerdo do cérebro, para os canhotos esta proporção fica um pouco acima da metade e aproximadamente um quarto dos canhotos processa a linguagem em ambos os lados. Ainda assim, isso difere de acordo com funções de linguagem específicas, como gramática e volcabulário.
Por outro lado, algumas evidências científicas sustentam a localização do processamento de estímulos visuais e sonoros no lado direito do cérebro, bem como raciocínios ligados à percepção espacial (o que explica a grande incidência de arquitetos canhotos e o sucesso de tenistas canhotos).
Outros experimentos mostram, também, um melhor processamento de novas situações pelo lado direito do cérebro, enquanto que o esquerdo lida particularmente bem com atividades mais corriqueiras.
Algumas especulações são feitas, ainda, tentando relacionar o sucesso (ou a falta dele) à preferência pelo lado do corpo, mas nada de conclusivo foi apontado até então. De um lado, uma pesquisa da década de 1980 mostrou prevalências compatíveis de canhotos tanto nos 15% melhores alunos quanto nos 15% piores alunos de uma Universidade americana, indicando a ausência de diferenças intelectuais significativas.
Mas um recente estudo de Ruebeck, Harrington Jr. e Moffitt (Handedness and Earnings, 2006 - arquivo em PDF) mostrou que canhotos com formação universitária ganham aproximadamente 15% mais que seus pares destros. Ainda, se a formação acadêmica for mais elevada, esta diferença pode subir para 26% - embora esta diferença valha apenas para os homens.
Um estudo de Charlotte Fauriet e Michel Raymond (Universidade de Montpellier, na França) lança, contudo, a hipótese de que por uma natural vantagem nos combates físicos (o destro tem dificuldade em antecipar os golpes de um canhoto), os canhotos estariam mais associados à violência. Os pesquisadores encontraram uma correlação positiva entre as taxas de homicídio e a porcentagem de canhotos em alguns países. Isto é: quanto mais canhotos no país, maior a taxa de homicídio.
Claro que uma correlação destas não significa, necessariamente, causalidade. Ou seja, o fato de dois fatos ocorrerem juntos frequentemente não significa que um seja a causa do outro. Os próprios Fauriet e Raymond argumentam que os canhotos não são mais violentos - eles apenas levam vantagem quando brigam.
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Abridor de latas
Deixe de ser tapado, meu filho!
Evidências científicas à parte, o fato é que o canhoto vive num mundo que não é feito para ele. Atividades corriqueiras para um destro podem se transformar em problemas praticamente insolúveis para quem precisa usar a mão esquerda.
Isto ocorre porque a maioria dos instrumentos cotidianos favorecem o uso da mão direita - algo que muitos destros nem sequer se dão conta. Um ótimo exemplo disso é a tesoura. Quando um canhoto segura uma tesoura com a mão esquerda, ele força suas lâminas para fora - e não para dentro, como um destro - dificultando o corte. Além disso, o canhoto não enxerga o que está cortando - o que pode ser realmente perigoso...
Pense, ainda, em uma régua. Para o destro é muito simples e natural traçar uma reta da esquerda para a direita, mas para o canhoto isso significa passar uma mão por cima da outra - o que não é nada prático. Outros exemplos pitorescos são o saca-rolhas, apontador de lápis, carteiras escolares, teclado numérico (fica do lado direito), caderno espiral (a mão que escreve fica em cima da armação de arame), botões da camisa, armas de fogo (a trava do gatilho é do lado direito, assim como a alavanca de liberação do pente de munição), câmeras fotográficas, violões etc.
A consequência disto é que o canhoto precisa encontrar meios de superar tais dificuldades e isto pode levá-lo a desenvolver uma maior capacidade de adaptação a novas situações. Minha teoria - ainda não submetida aos crivos da ciência - é que para as atividades que um canhoto nunca realizou ele deve fazê-las como um destro. Se o canhoto nunca tocou violão na vida, por que inverter a posição do instrumento?
Afinal, a coordenação e o ritmo necessários são resultados de uma habilidade motora fina que ele nunca treinou. (Provavelmente o canhoto Eric Clapton pensou assim, ao contrário de Jimi Hendrix e Paul McCartney.) O mesmo vale para o abridor de latas: por que segurá-lo com a mão esquerda? Ainda assim, para quem insiste em fazê-lo, há lojas especializadas em produtos para canhotos, como a Anything Left-Handed.
Outra curiosidade que observo é que quando uma pessoa identifica um canhoto, quase sempre também é um canhoto. Destros dificilmente prestam atenção nisso. Aliás, destros raramente percebem os canhotos.
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Barack Obama_canhoto
Quatro dos cinco últimos presidentes dos EUA são canhotos
Certamente esse texto não estaria completo sem uma lista de canhotos famosos e você provavelmente já esperava por isso, certo? Então vamos a ela.
Políticos e estadistas: Alexandre o Grande, Napoleão Bonaparte, Benjamin Franklin, Fidel Castro, Gandhi e Bill Clinton.
Artistas e escritores: Leonardo Da Vinci, Michelangelo, Raphael, Beethoven, Mark Twain, Friedrich Nietzsche, Tom Cruise, Robert De Niro, David Letterman, Jay Leno, Kurt Cobain, Paul Simon, Steve McQueen, Julia Roberts, Bruce Willis, M.C. Escher, Charles Chaplin, Cole Porter  e Marilyn Monroe.
Atletas: John McEnroe, Martina Navratilova, Maradona, Johan Cruyff, Romário e Ayrton Senna.
Outros: Henry Ford, David Rockefeller e Einstein.
Uma curiosidade é ver alguns personagens canhotos. Por que um autor decide que sua criação usará a mão esquerda? Há algumas explicações: Rocky Balboa era um southpaw por causa da fama que os lutadores que usam a mão esquerda têm de ser imprevisíveis. Já o Neo, de Matrix, provavelmente é canhoto porque Keanu Reeves também o é. Keyser Soze, de Os Suspeitos, usa a mão esquerda por causa de uma aparente deficiência física que afeta o lado direito do seu corpo. Bob Esponja e Dilbert, no entanto, apenas reforçam o estigma de que o canhoto é atrapalhado. Com relação a Bart Simpson, bom, este é um destrabelhado mesmo. Ah, e Leonardo, Michelangelo e Raphael a que me referi lá em cima não são as Tartarugas Ninja...
Mas nem só de bons exemplos orgulham-se os canhotos. Pelos ferimentos de suas vítimas, acredita-se que Jack o Estripador era canhoto, tal como o famoso serial killer Albert de Salvo, o estrangulador de Boston. Assim como John Dillinger, o sanguinário gângster americano do início do século passado e Billy the Kid, o pistoleiro que aterrorizou o faroeste ianque.

Canhoto enfrenta o "ser gauche na vida"


ALEXANDRA OZORIO DE ALMEIDA
da Folha de S.Paulo

O que há em comum entre uma tesoura, uma régua e um abridor de latas? Se hesitou na resposta, é provável que você seja um destro e, como tal, não perceba que o mundo não é feito para os canhotos. Os três objetos representam a hegemonia daqueles que têm mais habilidade com a mão direita. Ao tentar manuseá-los, o canhoto apenas reforça a imagem de desastrado, a mais comum das associações negativas que costuma provocar.
  Caio Esteves/Folha Imagem


 Canhoto abre lata com utensílio para destros.

Ser canhoto é ter de se adaptar a uma realidade espelhada, que se apresenta ao avesso, impondo um mundo invertido, ao contrário daquele que seu cérebro considera natural. Não que essa adaptação seja sempre difícil. Até entre os canhotos, a maioria, resignada, talvez não se dê conta do esforço.
Seria exagero afirmar que o canhoto é estigmatizado como no tempo de nossos avós. Mas os resquícios de uma época em que essa minoria não tinha vez ainda estão presentes, para muito além daqueles três prosaicos utensílios.
Sim, há uma discriminação contra o canhoto, ainda que involuntária —e foi para chamar a atenção contra essa atitude que se comemorou, em 13 de agosto, o Dia Internacional do Canhoto.
A expressão "internacional" mais indica um desejo do que descreve um fato. No Brasil, por exemplo, só o mais militante dos canhotos terá se lembrado da data. O Dia Internacional dos Canhotos (comemorado com feiras de produtos para esse nicho de mercado e por competições esportivas em que os destros ficaram de fora) é mais uma invenção dos britânicos em prol da "categoria". A mais conhecida delas foi estabelecer que os carros circulam do lado esquerdo da rua.
Essa iniciativa, como se sabe, não pegou na maior parte do mundo. Nem teve como objetivo facilitar a vida dos canhotos. Acredita-se que o hábito tenha tido origem no período medieval: cavaleiros seguravam o escudo com a mão esquerda, para proteger o coração, e a lança com a direita, fazendo com que eles trafegassem do lado esquerdo das estradas, em caso de ataques.
De qualquer maneira, é nesse Reino Unido campeão dos direitos das minorias que prospera um incipiente movimento dos canhotos.
É provável, portanto, que não por acaso o país tenha sido o berço de um trabalho que mapeia os preconceitos contra canhotos. Trata-se do livro de Chris McManus, professor de psicologia da University College de Londres. Lançado em março, o estudo resulta de 30 anos de pesquisas sobre o uso da mão esquerda no decorrer da história em diferentes culturas.
"Mão Direita, Mão Esquerda", a ser lançado em setembro nos EUA, recebeu resenhas positivas da mídia especializada, como a revista científica "Nature", uma das mais prestigiadas do mundo, e leiga, tendo sido elogiado pelos jornais "The Times", "Financial Times" e "The Spectator", entre outros.
O autor mostra que o lado esquerdo é sempre visto de forma negativa. "Há indícios de preconceito contra os canhotos desde que os homens têm usado a linguagem, há 100 mil anos ou mais", disse McManus à Folha. A discriminação, na verdade, começa na própria língua, qualquer que seja ela.
Em português, canhoto também tem o sentido de inábil, desajeitado. Destro, ao contrário, significa aquele que é dotado de destreza, hábil, ágil, direito, correto. Em francês, o adjetivo canhoto ("gauche") é sinônimo de inepto, acanhado, sem refinamento. "Vai, Carlos, ser "gauche' na vida", escreveu Drummond de Andrade, um destro com alma canhota. "Sinistro", em italiano, é algo de mau agouro, fúnebre, ameaçador. O termo inglês ("left-handed") é descritivo, neutro, mas levantamento citado por McManus aponta mais de 80 sinônimos pejorativos na língua.
Expressões populares atribuem juízo de valor aos dois hemisférios do corpo: após uma seqüência de reveses, diz-se que o desafortunado acordou com o pé esquerdo; no Réveillon, desejamos ao próximo entrar no ano com o pé direito, e assim por diante.
A etiqueta também não ajuda. Cumprimenta-se com a mão direita e, à mesa, corta-se o alimento com a faca na mão direita, o que pode levar a um "choque de asas" entre o canhoto e o destro ao lado.
Até a religião oferece chancela de peso ao preconceito. Segundo a Bíblia, Jesus Cristo se sentava do lado direito de Deus. Quanto ao Diabo, não apenas seria canhoto, como batizava os seguidores com a mão esquerda, segundo idéia difundida no século 17.
Na política, a distinção é fortíssima. Na monarquia francesa, os nobres se sentavam à direita do rei e o Terceiro Estado —burgueses e outros, que acabaram derrubando o regime— ficavam à esquerda. Comunistas, anarquistas e outros integrantes da esquerda política ainda são associados à quebra da ordem vigente, cuja manutenção é defendida pelos "conservadores", a direita.
A questão não se restringe à cultura e à política ocidental. No Alcorão, no dia do Juízo Final, aqueles que carregam os livros na mão esquerda sinalizam os que não foram bem-aventurados. O capítulo 56 do livro sagrado muçulmano descreve o destino de cada grupo. Enquanto aos bem-aventurados está reservado o melhor —tronos, água corrente, árvores frondosas— os outros são recebidos com água fervente, ventos escaldantes, uma sombra de fumaça negra.
"Os ditos do profeta determinam as ações de cada mão", explica o xeque Armando Hussein Saleh, da Mesquita Brasil. "A mão direita é a das boas ações, como se alimentar, cumprimentar as pessoas. A mão esquerda é usada por Satanás e os demônios, em seus atos, por isso usamos a mão direita para contrariar aquele que é nosso inimigo nº. 1." À mão esquerda estão reservadas as tarefas impuras, como a higienização, poupando a direita para as ações puras. Essa noção ainda é observada em Estados islâmicos mais conservadores, como os do Golfo Pérsico.
Até hoje não se sabe bem o que leva uma pessoa a ter mais habilidade com uma das mãos. Acredita-se que haja influência genética, mas não se sabe qual ou quais genes estariam ligados a essa característica. Também não se sabe qual a porcentagem da população que terá esse traço.
Cerca de 10% das pessoas são canhotas, mas, devido à discriminação, essa proporção era de 3% no início do século 20. "A influência ambiental é decisiva em eventualmente converter um canhoto em falso destro ou em definir um indivíduo sem determinação inata óbvia na expressão de uso de membros", afirma Luiz Eugênio de Mello, professor de neurofisiologia da Universidade Federal de São Paulo.
Ser classificado canhoto ou destro não é tão simples quanto parece. Ninguém é 100% um ou outro. "Considera-se canhota a pessoa que tem o domínio da habilidade motora manual, do pé ou do olho esquerdo", explica o neurologista Luiz Celso Vilanova, chefe do setor de neurologia infantil da Unifesp. "Mas a concordância não é obrigatória", acrescenta Mello. Isto é, a mesma pessoa pode ter o pé direito e a mão esquerda dominantes, por exemplo. Por uma convenção social, se valoriza mais a predominância manual do que as outras duas.
Do ponto de vista neurológico, destros têm o domínio do hemisfério cerebral esquerdo. Curiosamente, nem todos os canhotos são o oposto, apresentando o domínio do hemisfério direito.
Essa questão da dominância está na raiz de um dos muitos mitos sobre os canhotos: o de que seriam mais artísticos do que os destros, que, por sua vez, teriam maior desenvoltura ao lidar com códigos lógicos, situados do lado esquerdo do cérebro.
Uma área em que canhotos podem comemorar vantagem é a esportiva, pois os jogadores estão mais acostumados a enfrentar adversários destros. Estatisticamente, mostra McManus, esportistas canhotos bem-sucedidos existem em proporção maior do que na população geral.
As mais variadas teorias tentam entender o canhotismo. Há não tanto tempo, definia-se que o "normal" era ser manidestro e que o canhotismo era resultado de um nascimento traumático. O resultado é que fazia-se de tudo —e alguns ainda fazem— para tirar a criança do "mau caminho". Quando o bebê começava a pegar objetos com a mão esquerda, batia-se naquela mão e o objeto era colocado na mão direita.
  Divulgação

 

 Capa do livro "Right Hand, Left Hand"


Professores também têm um histórico de repressão ao uso da mão esquerda. A criança canhota era obrigada a aprender a escrever com a mão direita. As canhotas autorizadas a usar a mão preferida eram corrigidas por escrever "torto", com o caderno inclinado à direita.
Material escolar é um problema para canhotos: a espiral atrapalha o punho, réguas têm a numeração da esquerda para direita (para canhotos o mais fácil é traçar uma linha no sentido contrário) e as tesouras impedem que vejam a linha sendo cortada.
Enquanto em países como o Reino Unido é possível encontrar produtos feitos para canhotos, no Brasil esses objetos são praticamente inexistentes.
Segundo Valmor Luiz Marchi, gerente industrial do grupo Eberle-Mundial, que produz facas, tesouras e alicates para canhotos, vendidos no Brasil e também exportados, o mercado consumidor não é proporcional ao número de canhotos. "Mesmo o mercado americano desses produtos varia de 3% a 5% da população, sendo que os canhotos representam mais ou menos 10% do total", afirma.
Enfrentar essa série de pequenos desafios produz efeitos diversos nos integrantes dessa minoria silenciosa. Em um dos poucos sites brasileiros sobre o tema, o "livro de assinaturas" traz comentários de canhotos que se vangloriam da condição ou se envergonham da "deficiência".
As causas e as consequências associadas ao uso preferencial de uma das mãos têm sido objeto de vários estudos nos últimos 20 anos. Eles estão inseridos na discussão a respeito de lateralidade: a idéia de uma linha imaginária que divide tudo ao meio e um lado é diferente ou predomina sobre o outro. Há até, no Reino Unido, uma revista sobre o tema: "Lateralidade -Assimetrias do Corpo, do Cérebro e da Cognição". Um dos editores é o próprio Chris McManus.
O subtítulo do livro de McManus dá uma idéia mais precisa sobre o ponto onde o autor quer chegar: "As Origens da Assimetria: do Big Bang à Mente Humana". Sua intenção é abraçar todas as áreas que promovem estudos sobre o tema: psicologia, biologia, química e neurociência, em uma tentativa de unificá-las, mesmo que de maneira informal —o livro é muito mais informativo do que teórico.
Os capítulos do livro começam com perguntas: Por que existem canhotos e destros? Por que os espelhos refletem imagens invertidas no sentido esquerda-direita e não norte-sul? Por que nosso coração está do lado esquerdo do corpo? Segundo o autor, a lateralidade está inserida em um contexto maior, o de assimetria. McManus discute as questões históricas e filosóficas a respeito da existência da assimetria, especificamente a premissa de que esquerda e direita podem ser conceitos relativos ou absolutos.
A idéia é que essa lateralidade está nas menores formas de vida (as moléculas de DNA são "canhotas", isto é, sua espiral gira para o lado esquerdo), passando pela lateralidade humana (a preferência pelo uso de uma das mãos), até a escala macro, como a dispersão irregular das galáxias no espaço.
Se traçarmos uma linha dividindo o corpo, vemos duas partes simétricas. Mas a realidade é que o homem é surpreendentemente assimétrico: a distribuição de órgãos é irregular, o sistema vascular é distribuído de forma irregular pelo corpo, os dois hemisférios do cérebro têm tarefas bastante distintas e usamos de forma bastante desigual as nossas mãos.
"Nosso corpo tem uma clara assimetria, ainda que por vezes pareça haver um predomínio da simetria. Em geral, o lado esquerdo do nosso sistema nervoso, que controla o lado direito do nosso corpo, é anatomicamente e funcionalmente assimétrico em relação ao lado direito", afirma Mello.